Independentismo posto à prova na Catalunha em jornada eleitoral imposta pela Espanha

Eleições na Catalunha são realizadas em condições excepcionais, após uma campanha dsigual na qual os candidatos independentistas não tiveram as mesmas condições que os unionistas. Pleito foi imposto por Madri após destituição de Carles Puigdemont, um dos candidatos mesmo no exílio 

Da esquerda para a direita, Carles Puigdemont, Oriol Junqueiras, Ines Arrimadas, Miguel Iceta, Xavier Domènech, Xavier Garcia Albiol e Carles Riera, os cabeças de chapa das formações que disputam hoje eleições na Catalunha

Espera-se um recorde de participação nas eleições da Catalunha nesta quinta-feira (21), quando serão escolhidos os 135 deputados do Parlamento com poder para indicar o novo presidente. Convocado extraordinariamente pelo primeiro ministro da Espanha, Mariano Rajoy, após intervir no governo local e dissolver o parlamento regional, o pleito acontece após uma campanha anormal, com candidatos na cadeia e outros no exílio. As filas registradas nos colégios eleitorais são grandes e há muita expectativa.
Está em jogo se se renova ou não a confiança nos independentistas, que eram maioria no parlamento, e tiveram seu presidente, Carles Puigdemont, destituído pelo governo espanhol após proclamar a república em 27 de outubro passado. Madri espera continuar com as redéas da Catalunha, que está experimentando desde a intervenção uma onda repressiva comparada aos do tempo da ditadura de Franco.

Desde a abertura das seções eleitorais, às 9h desta quinta-feira, já eram grande as filas em toda Catalunha

 

Os últimos sondeios eleitorais apontam que mais de 80% dos 5,5 milhões de eleitores aptos a votar pretendem comparecer as urnas. E que os 500 mil que figuram como indecisivos podem decantar a balança a favor do bloco independentista ou unionistas, que aparecem empatados na maioria dos cenários, com possibilidades de somarem os 68 deputados necessários para liderar o parlamento.
Do lado independentista lutam pela maioria Juntos pela Catalunha, Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) e Candidatura de Unidade Popular (CUP). Entre os unionistas, a disputa está entre Cidadãos, Partido Socialista Cristão (PSC) e o Partido Popular (PP) de Rajoy, que em todas as pesquisas aparece como o perdedor das eleições, com previsão de obter o menor número de deputados entre as 11 formações que disputam o pleito.
O presidente cessado Carlos Puigdemont, exilado em Bruxelas, cabeça de chapa de Juntos pela Catalunha, que reúne membros do Partido Democrata Europeu Catalão (PDeCAT) e nomes de várias esferas da sociedade catalã, desponta como um dos preferidos, com ascensão nas intenções de votos. Isso num cenário adverso, uma vez que foi obrigado a fazer campanha através de canais online com transmissão da Bélgica, por estar ameaçado de prisão caso volte à Catalunha.
O número 2 da chapa de Puigdemont, Jordi Sànchez, ex-presidente da Assembleia Nacional Catalã (ANC), não pode fazer campanha por estar preso em Madri sob acusação de sedição. Na última semana, foi punido na cadeia, sendo transferido de cela e proibido de falar até com a família por ter gravado uma mensagem de apoio a Puigdemont numa das ligações telefônicas a que tinha direito.
O vice-presidente Cassado, Oriol Junqueiras (ERC), preso em Madri sob acusação de sedição, rebelião e malversação de fundos públicos, mesmo proibido de fazer campanha, também desponta com possiblidade de arrebanhar maioria votos para a chapa que encabeça. A CUP, com Carles Riera, completa o bloco, e poderia eleger 10 deputados no parlamento.
Os independentistas tentam repetir ou superar os números de 2015, quando conseguiram a maioria no parlamento, elegendo 72 deputados, sendo 62 da então coligação Juntos pelo Sim (PDeCAT e ERC) e 10 da CUP.
A ameaça ao bloco independentista é Ines Arrimadas, a líder de Cidadãos, que emparelhou nas pesquisas com Puigdemont e Junqueiras. A jovem política, líder da oposição no parlamento na última legislatura, animou os unionistas, entre eles os grupos de extrema direita, por defender a reformulação do programas das escolas, a quem acusa de doutrinação contra Espanha, reduzindo o ensino do catalão e ampliando o do castelhano. Durante a campanha também defendeu a censura aos meios de comunicação pública. Miguel Iceta, do PSC, que deu apoio a aplicação das medidas repressivas na Catalunha, se situaria como segunda força entre os unionistas.
Apesar de ter sido o responsável pela dissolução do parlamento, intervenção no governo catalão e convocação de novas eleições, tudo indica que o PP de Rajoy ficará em último na disputa, com 4 ou 5 cadeiras, segundo as pesquisas. O candidato Xavier Garcia Albiol terá desempenho pífio segundo as sondagens, mesmo contando com a ajuda de Rajoy, que foi seu cabo eleitoral durante toda a campanha, e esteve em todos os atos realizados em território catalão na última semana.
Xavier Domènech, candidato da prefeita de Barcelona, Ada Colau, que representa Em Comum Podemos, poderá eleger mais deputados que o PP e figurar como um coringa na disputa, uma vez que seu número de cadeiras pode ser decisivo na eleição do novo presidente. Contudo, não se sabe para que lado vão pender, uma vez que é contra as medidas aplicadas por Madri, mas também não apoia os independentistas.
Do lado dos independentistas, que considera a eleição ilegítima, luta-se por restabelecer o governo catalão, negociar a volta de Puigdemont e libertar os presos políticos e obter mediação do conflito pela Comunidade Europeia. Rajoy, por sua vez, busca tomar definitivamente o controle da Catalunha, mesmo que pelas mãos de Cidadãos, o que lhe garantiria continuidade do apoio no Congresso do rival PSOE e do respaldo de suas ações pela União Europeia.  Um jogo complicado, cujos próximos passos dependerão dos cidadãos que estão depositando nas urnas.

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