Migrantes resgatados pelo Aquarius seguem para Espanha após recusa dos governos da Itália e Malta

Após três dias de tensão e angústia, barco Aquarius partirá para porto de Valência com ajuda da Guarda Costeira e Marinha italiana

Migrantes resgatadas na costa da Líbia tiveram entrada barrada por governo xenófobo da Itália

Finalmente os 629 migrantes resgatados no mar Mediterrâneo em frente à Líbia na noite do último sábado vão encontrar um porto seguro em Valência, na Espanha. A notícia foi confirmada na manhã desta terça-feira pela ONG Médicos Sem Fronteira, que junto a SOS Mediterránée, realizou o resgate com o barco Aquarius.

Os tripulantes do Aquarius vivem momentos de tensão e angústia desde que o governo da Itália, através do ministro do Interior e líder utradireitista, Matteo salvini, fechou no domingo os portos do país ao desembarque da embarcação humanitária A situação se agravou com o rechaço do governo de Malta, que também se negou a receber a embarcação. Os dois países são os mais próximos de onde se deu o resgate.

Diante da negativa, o primeiro ministro da Espanha, Pedro Sánchez, se ofereceu na segunda-feira para receber a embarcação no Porto de Valência. O presidente da Catalunha, Quim Torra, também colocou o Porto de Barcelona à disposição do governo central e se dispôs a acolher os migrantes, assim como governo das Ilhas Baleares.

Inicialmente os tripulantes do Aquarius informaram que a ida a Valência, num percurso de três dias, seria arriscada pela falta de mantimentos e pela situação de saúde de muitos dos resgatados. Das 629 pessoas que viajam no Aquarius, 123 são menores, há 11 bebês e sete mulheres grávidas.

Um dos tripulantes do aquarius brinca com um dos 11 bebês resgatados

A travessia será possível agora porque parte dos migrantes do Aquarius será levada à Espanha em barcos da Guarda Costeira e da Marinha italiana e a embarcação humanitária está recebendo mantimentos para a centena de pessoas que transportará.

Na noite de segunda-feira, o coordenador de resgates do Aquarius, Nicola Stalla, explicava que emprender a travessia com todo o grupo era impossível porque implica que teriam que dormir a céu aberto e o tempo no mar estava piorando, com previsões de tormentas e mar bravo. O que suporia por em perigo e o barco, a tripulação e os resgatados.

As negociações do Centro de Coordenação Marítima de Roma, encarregado de coordenar os resgates e a chegada de todos os migrantes a bordo, continuaram por toda a madugada de hoje e prosperou a opção Valência com apoio dos barcos italianos.

A solução agradou o novo governo da Itália, que tomou posse há duas semanas tendo como uma das promessas fechar as portas do país aos migrantes. A intervenção do governo espanhol foi bem-vinda num momento em que a política migratória europeia é posta em xeque por alguns dos seus sócios.

Quando soube da decisão da Espanha em receber o barco, o novo ministro de Interior italiano, o xenófobo Matteo Salvini, comemorou através de sua conta do Twitter, dizendo que significava uma vitória para seu governo.

Os detalhes do transporte dos resgatados pelo Aquarius devem ser divulgados ao longo desta terça-feira. Se sabe que levará ao menos três dias, pois Valência está a 700 milhas náuticas (uns 1.300 quilômetros) do ponto entre Malta e Itália onde está agora o barco humanitário.Todos os migrantes resgatados vieram da Líbia, um inferno sobretudo para os subsaharianos.

A batalla nas últimas horas era para conseguir canto para dormir, o que mais estava gerando tensões no barco. Tanta gente em um espaço tão reduzido – com 77 metros de comprimento – supõe um grande risco porque a situação pode se deteriorar rapidamente.

O Aquarius é um dos poucos barcos de ONGs que ainda atuam no Mediterrâneo central, onde neste ano já se afogaram 784 migrantes, segundo números da Agência das Nações Unidas para os Refugiados.

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