Conheça o Vietnam, onde a liberdade e a esperança se sobrepõem aos vestígios da guerra

O Viaje Mundo Afora ganha mais uma colaboradora, a tradutora Maria Angélica Carneiro. A brasileira, radicada em Barcelona, adora desbravar novos horizontes mundo afora. Na sua primeira incursão aqui no blog, nos leva ao Vietnam. Abaixo, ela explica o que a motivou a visitar o país e dá dicas interessantes para os que desejam conhecer o destino. Já preparou as malas?

Por Maria Angélica Carneiro

A minha motivação inicial para visitar um país é sempre a curiosidade, mas essa viagem ao Vietnam, comecei pela Tailândia, depois segui para o Camboja, e na sequência para o Vietnam e Laos. O Vietnam, para mim, tinha uma atração especial pela guerra vivida por eles e entre eles. Vi muito filme sobre essa guerra, ouvia e via muitas notícias, me sentia implicada e minha imaginação viajava. Queria visitar os lugares onde aconteceram muitos fatos importantes dos quais ouvia falar e foi o que fiz. Enfim, era uma aventura para mim e essa sensação é bastante agradável. 

TRANSPORTE – No roteiro que fiz, incluindo Tailândia e Camboja, o recomendado é ir mesmo de ônibus. Isso possibilita conhecer lugares interessantes passando de um país ao outro: cidades, lugarejos e a vegetação bastante tropical. Às vezes, eu imaginava estar na minha terra, o Maranhão, pois a vegetação era igualzinha! Claro que há voos de um país para o outro, mas considero que não é a mesma coisa. A maioria dos viajantes como eu, faz o percurso de ônibus. Por algum motivo será!

HOSPEDAGEM – A reserva sempre deve ser feita através das websites de alojamento e de preferência, como no meu caso, os albergues são a melhor opção pois como todos os que vão aí estão na mesma onda, você pode “conectar” com eles, e não só obter informação como ter companheiros para passeios, e quem sabe, até para o resto da viagem: tem de tudo. O pessoal da recepção dos hotéis sempre dá muita informação, mas os outros hóspedes são essenciais e fazem parte, também, do “roteiro” da viagem.

IDIOMA – O idioma deles é o vietnamita e para comunicar-se ali a língua usada é o inglês. Porém, antes utilizava-se o francês devido a colonização e isto para mim era um trunfo porque estudei francês desde os 10 anos. Atualmente, no Vietnam só as pessoas mais idosas é que o falam o francês e têm o maior orgulho disso, como muitas com que conversei me disseram. O idioma é ensinado na escola e nas universidades, inclusive existem escolas francesas, portanto é muito difundido. Mas o inglês tornou-se idioma de comunicação. Portanto, falei em inglês, em francês e por gestos (com as mãos), linguagem que serve em qualquer situação e que foi muito útil nos lugares onde apenas se falava o vietnamita.

MOEDA – A moeda é o dong vietnamita. Sem problemas por essa parte: é só chegar lá, trocar e usar.

CULINÁRIA – Em geral, gosto de qualquer prato asiático, porque são leves, fáceis de digerir e com um sabor especial. Nos restaurantes do país, o recomendável é olhar bem os menus que sempre estão em outro idioma que não o deles e escolher de acordo com o gosto. Um detalhe: no sudeste asiático usam muito a pimenta nos pratos ao cozinhar e/ou depois de feitos. Se não gosta, o que se deve fazer é pedir que não ponham pimenta. Isto deve ser pedido em inglês, e em todos os idiomas que saiba como dizer a palavra “pimenta” ou “picante” e com gestos (funciona). Todos os que a pessoa souber e imaginar porque senão pode se deparar depois com um problema estomacal ou intestinal, sem falar na sensação de ardor que permanece na boca por mais de um dia. É realmente forte!

ESPÍRITO DE AVENTURA – Quem gosta de viajar e vai para países que não são muito desenvolvidos já sabe o que pode encontrar pelo caminho. Hoje em dia já não há muito mistério, pois há muita informação disponível sobre esses lugares. Mas há de levar em conta que nem tudo que publicam é a verdade estrita e exclusiva. Por isso, nestes destinos, muitas vezes é necessário improvisar. O visitante deve ter o famoso “espírito aventureiro”, ciente de que nada é e nem pode ser assustador nem achar que vai encontrar tanta dificuldade que parece estar “desbravando” um território inóspito. Há coisas que podem parecer “absurdas” num primeiro momento para quem não está acostumada, mas para pessoas que viajam muito e que, como eu, sou de um entorno com muita improvisação e coisas simples, nada é novidade. O segredo é estar com o espírito aberto e não pensar que viver como eles é o “pior” nem achar as coisas tão fora de lugar. É o normal para eles e para muita gente no mundo inteiro. Não existe nada que não tenha sua explicação e nem considere que não existe uma lógica na forma de vida deles. É sempre maravilhoso aprender do que vemos e adaptar-nos a essa realidade momentânea!

O POVOAs duas principais cidades que são HoChiMin (antiga Saigon) a mais populosa com mais de 8 milhões e meio e Hanói com 7 milhões e meio. Sobre os nativos do país só tenho a dizer que são encantadores, muito amistosos e acolhedores. Não somente os vietnamitas, mas todos do Sudeste asiático. Tratam com carinho ao estrangeiro, em geral, e no meu caso, por ser mulher e viajando sozinha, foi mais que espetacular a acolhida. Sempre sorridentes e mesmo sem falar bem ou nada do idioma que você fala, eles procuram ajudar ao máximo e quando não entendem nada, falam por gestos e sorriem. Utilizei muito essa forma de comunicação, por gestos, sendo que a pessoa que está precisando a ajuda começa a se virar e pergunta para outra até achar quem explique o que quer saber, mas não é nada difícil.

Motos predominam no trânsito nas cidades do Vietnam

EXPERIÊNCIAS INUSITADAS – Tive muitas experiências que me fizeram rir, sorrir e outras, até dar gargalhadas durante a incursão pelo país. Começando pelo caos circulatório do Vietnam em geral, falo das duas grandes cidades, Saigon (chamada ali de HoChiMin) e Hanói: tomadas pelas motos e onde quase não há carros. Outra experiência interessante aconteceu um pouco antes de chegar em Saigon. Caiu um temporal e ao desembarcar lá, as ruas estavam alagadas; aí, ao saltar do ônibus tivemos que enfrentar aquela água toda para atravessar a avenida. Ficamos na agência de viagens aguardando passar a chuva e poder sair quando a água baixasse. Foi então, que liguei para o hotel e mandaram alguém em moto para me apanhar. Colocamos a mala entre condutor e eu e assim seguimos. Só que tudo aconteceu na base do improviso e arrastando um pouco a moto devido a água que estava acumulada na rua. Ri muito nesse dia, mas foi maravilhoso chegar no hotelzinho com o pessoal bem bacana que trabalhava lá. Maravilhoso e muito acolhedor.

VISITE! – No Vietnam tem muitos lugares para não deixar de visitar, porém o mais interessante para mim são:

O Museu da Guerra em HoChiMin (Saigon), com os túneis de Cu Chi utilizados pelos vietcongs;

Túneis de Cu Chi

 

O delta do Mekong, rio famoso pela guerra, onde se livravam muitas batalhas;

Delta do Mekong

O Museu da Historia Militar do Vietnam e o Mausóleu de HoChiMin, herói nacional, em Hanoi.

Mausóleu de HoChiMin

Há cidades perto do famoso Paralelo 17 que são interessantes e uma delas é Hue.

Templo na cidade de Hue

Em HoChiMin notam-se os vestígios da colonização francesa nos edifícios icônicos e o orgulho deles em falar deste passado que lhes deixou de herança o idioma e a religião católica: vide a Catedral Basílica de Notre Dame (Nossa Senhora da Conceição) no centro da cidade, Correios, Òpera.

Em HoChiMin notam-se os vestígios da colonização francesa nos edifícios icônicos

Também há muitos restaurantes e escolas francesas e uma infinidade de cidadãos franceses residentes no país, principalmente em Saigon.

IMPRESSÕES – Os vietcongs, que eram comunistas, venceram e formaram a República Socialista do Vietnam unindo os dois Vietnam, sem opções para os vencidos. Agora, depois da liberdade recuperada e passado uns anos, o regime, na realidade deixou de ser comunista para se tornar capitalista e feroz e isso é palpável: tanta guerra para nada! Porém, a fratura existiu e existem reflexos de tudo o que aconteceu pois não faz tanto tempo e quando conversamos com eles, sente-se pelos comentários.

A sensação mais marcante desta viagem foi a da liberdade, porque depois de uma guerra que durou 20 anos, na qual os próprios nativos se enfrentaram dura e ferozmente entre eles, mais os de fora, que eram as tropas dos Estados Unidos, mantinha o país dividido sem esperanças, o que felizmente já mudou.

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