Dentista norte-americano reconhece que matou leão Cecil

Cecil e seu algoz
James Palmer (à esquerda) com o “troféu” Cecil

Desvendado o mistério sobre quem foi que matou o leão mais famoso do Zimbabue. Walter James Palmer, rico dentista de Minnesota, nos Estados Unidos, foi quem pagou quase 50 mil euros para caçar o animal que vivia na área protegida do Parque Natural de Hwange, no Oeste do país africano. Inicialmente a imprensa europeia havia especulado que o autor seria de nacionalidade espanhola.

James Palmer divulgou comunicado afirmando ter participado da caçada através de uma agência de relações públicas na última terça-feira, 28 de julho, depois de ter seu nome revelado pela polícia do Zimbabue. Ele reconheceu que matou o felino, mas disse não saber que se tratava de Cecil. “Desconhecia a identidade do leão e que levava um colar de GPS. Confiei na experiência de meu guia profissional”, declarou. O colar foi retirado do animal.

Cecil Cacador
James Palmer em uma de suas muitas caçadas

A biografia do dentista aponta para um caçador que gosta de exibir troféus. Inclusive fez fotos junto do leão morto segurando o arco com o qual disparou a flecha que feriu o animal, que fugiu e sangrou durante dois dias até ser abatido a tiros de rifle. Depois, foi decapitado e teve a pele retirada.

Nos Estados Unidos, consta que Palmer foi condenado em 2008 por dar um falso testemunho ao Serviço de Fauna Selvagem e Pesca sobre a caça de um urso negro no oeste de Wisconsin. À época, ele teria permissão para caçar o animal, contudo a ação se deu fora da área autorizada. Da mesma forma que no Zimbabue, visto que o leão Cecil foi atraído para fora da reserva ao seguir a carcaça de um animal morto.

O dentista tem suas “façanhas” documentadas pelo Pope and Young Club, clube de caça norte-americano, segundo o responsável pelo arquivo da entidade, Glenn Hisey. Que declarou ter alertado à diretoria do clube que a ética de Palmer está sendo questionada. E que pode ficar comprometida caso se demonstre que ele fez algo ilegal fora do país.

Em 2009, numa declaração ao The New York Times disse que aprendeu a disparar aos cinco anos e que era capaz de acertar o disparo em uma carta a 90 metros de distância.

CAÇADO – As explicações de Palmer não foram suficientes para salvá-lo de um outro tipo de caçada. Desde que teve o nome divulgado pelas autoridades do Zimbabue, o telefone de sua casa não para de tocar, uma vez que seu número foi publicizado por um grupo ecologista. Ninguém atendia aos chamados e a secretária eletrônica já não gravava mais recados.

Seu consultório estava fechado quando um repórter da agência de notícias Associated Press tentou falar com ele ontem. A fanpage profissional do Facebook foi eliminada depois de receber uma chuva de insultos. Centenas de comentários similares foram deixados em sua página na internet na plataforma Yelp, que antes de terça-feira só tinha dois registros de comunicação.

CAÇA – Palmer, que teria pago entre 45 mil e 50 mil euros pela caçada no Zimbabue esteve no Parque Nacional de Hwange no dia 1ª de julho acompanhado do caçador Theo Bronkhorst. Quando encontraram Cecil, decidiram atraí-lo para fora do parque. Para isso, ataram ao veículo a cabeça de um animal morto e foram até uma granja privada próxima do local.

A Autoridade de Parques e Vida Selvagem do Zimbaue informou que Theo Bronkhorst, que pertence a Safaris Bushman, e Honest Trymore Ndloy, dono da granja, estão presos, acusados de caça ilegal e comparecerão nesta quarta-feira diante dos tribunais. Eles podem pegar até 15 anos de prisão. “Agora estamos investigando a implicação de Palmer no caso”, divulgou a polícia.

Segundo o jornal O Público, de Lisboa, a caça a leões e outros grandes mamíferos é legal em alguns países africanos (veja link no final do post). O alto preço pago por um troféu de caça como este normalmente serve para financiar esforços de conservação das próprias espécies. Mas o impacto da atividade ainda é mal conhecido e preocupa cientistas e conservacionistas. Um estudo publicado em 2011 sugere que a caça anual de um leão por cada dois mil quilômetros quadrados de área é sustentável.

Os leões (Panthera leo) são considerados como uma espécie “vulnerável” na África, segundo a Lista Vermelha de espécies ameaçadas, da União Internacional para a Conservação da Natureza. Mas a sua situação varia conforme o país. Estima-se que há menos de 40.000 animais em todo o continente e a população está, genericamente, a crescer em zonas controladas mas a diminuir em áreas sem qualquer estatuto ou mecanismo de proteção.

Cecil era “um dos animais mais belos de se admirar”, segundo Johnny Rodrigues, da Zimbabwe Conservation Task Force, uma organização criada em 2001 para patrulhar a caça ilegal nos parques naturais do país. “Ele nunca fez mal a ninguém”, disse Rodrigues, citado pela BBC.

Cecil e outro leão, Jericho, lideravam um grupo com várias fêmeas e filhotes no parque de Hwange. Com a morte de Cecil, os seus próprios filhotes possivelmente serão mortos por outros leões que ocupem o mesmo território.

Confira aqui link com vídeo sobre o caso divulgado pelo jornal O Público.

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