Aumenta tensão entre Espanha e Catalunha com detenção de vereador independentista

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Joan Coma foi liberado na manhã de hoje, em Madri

Aumentou a tensão entre o governo da Espanha e os defensores da independência da Catalunha. Centenas de pessoas passaram a manhã em frente a Audiência Nacional, em Madri, para onde o vereador do munícipio de Vic, Joan Coma (CUP), foi levado coercitivamente a depor por ordem judicial. Ele é acusado de sedição – crime contra a segurança de um país – por ter defendido em dezembro de 2015 na Câmara de Vereadores moção de suporte ao Parlamento da Catalunha que permitia o início do processo de desconexão.
Joan Coma foi detido pela polícia na manhã da terça-feira (27) em Vic e levado à capital espanhola, onde pernoitou. A ordem foi expedida pela Justiça peor ele ter se recusado a comparecer a audiência convocada para 24 de outubro passado. O vereador, que teve o passaporte retido, foi liberado após o depoimento na manhã de hoje.
As primeiras reações contra a ação judicial começaram nas redes sociais logo após Coma anunciar através do Twitter que havia sido detido. Um protesto simultâneo foi convocado para as 20h do mesmo dia pela Assembleia Nacional Catalã (ANC), Òminium Cultural e Associação dos Municípios pela Independència (AMI), reunindo políticos e militantes. A manifestação ocorreu em frente às prefeituras de vários municipios catalães, entre eles Vic e Barcelona.

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Representantes de entidades soberanistas, políticos e militantes participaram de manifestação de apoio a Joan Coma, em Vic

Hoje, em Madri, as pessoas que foram dar apoio a Coma portavam cartazes com as seguintes frases: “Se tocam em um, tocam em todos”, “Nem um passo atrás” e “Independência, independência”. “Viemos nos manifestar junto com os amigos do vereador neste episódio que foi um passo a mais na judicialização do proceso catalão”, opinou o deputado Joan Capdevila, do partido Esquerda Repúblicana. À tarde, foi realizado mais um protesto simultâneo em várias cidades da Catalunha em suporte a Coma.
“Podemos afirmar sem nenhuma dúvida que a lei que se quer aplicar e que foi utilizada para privar Coma da liberdade é franquista”, declarou Benet Salellas, advogado do vereador. Ele faz referência às acusações que se baseiam no Código Penal de 1973, cujos artigos deixaram de vigorar após a instauração da Constituição em 1978, editada após a redemocratização.
A investigação contra o vereador causa ainda mais indignação entre os soberanistas por ser conduzida pelo juiz Ismael Moreno. O magistrado é ex-inspetor de polícia do Corpo Nacional de Polícia, cargo que ocupou durante a ditadura de Franco.
A investigação contra Coma foi aberta há um ano após denúncia do também vereador de Vic, Josep Anglada, ex-líder da Plataforma por Catalunha, uma organização de extrema direita. E se baseou na seguinte frase do parlamentar: “Nós sempre dissemos que para fazer o omelete é preciso quebrar os ovos, e esta declaração significa um grande passo adiante, em direção à construção da república catalã”, disse à época, numa referência à decisão do Parlamento da Catalunha de iniciar o processo de desconexão da Espanha.
O ministro de Justiça Rafael Catalá disse que as pessoas que fazem este tipo de declaração deveriam pensar melhor no que falam. “Qualquer proposta que pretenda justificar ou explicar uma atitude negativa à convivência cotidiana e ao respeito à lei tem pouco de valor democrático”. Sobre a detenção coercitiva, ele disse que a lei permite este expediente quando o convocado a depor se nega a comparecer diante de um juiz. Para o ministro, os políticos soberanistas apoiam a um vereador “que se manifestou contra o estado de direito e é obstrucionista”.

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