18 de dezembro: 18 propostas solidárias para o Dia do Imigrante

Voltei, senhores, para minha família após uma longa ausência: sete anos, para ser mais preciso, durante os quais estudei na Europa. Aprendi muito, e muito me escapou, mas isso é outra história. O importante é que voltei carregado por uma saudade tremenda de minha gente (…). Durante sete anos, senti a falta deles, sonhei com eles e, quando cheguei, foi um momento mágico, pois me encontrei de fato entre eles. Alegraram-se comigo, rodearam-me inquietos e, rapidamente, senti o gelo derreter-se dentro de mim, como um ser congelado exposto ao sol. Havia perdido, por um tempo, em terras cujos ‘peixes morrem de frio’, essa sensação de aconchego entre os meus. Meus ouvidos estavam acostumados a suas vozes e meus olhos, a suas feições, de tanto nelas pensar durante minha ausência; mesmo assim, a princípio, entre mim e eles houve algo como a neblina, que logo se desfez. No dia seguinte à minha chegada, acordei na mesma cama, no mesmo quarto cujas paredes haviam sido testemunhas da trivialidade de minha vida na infância e na adolescência. Entreguei meus ouvidos ao vento: é um som deveras conhecido por mim, que, em nossa terra, tem um alegre sussurro. O vento quando sopra entre as palmeiras é diferente daquele que passa pelos trigais. Ouvi o murmúrio da rolinha e, da janela, olhei para a palmeira do nosso quintal e constatei que a vida continua boa. Contemplando o tronco forte, as raízes fincadas na terra e a copa de folhas verdes, senti-me tranquilo. Não tenho mais a sensação de ser uma pena ao vento. Sou como aquela palmeira, uma criatura que tem origem, raiz e objetivo.”

(Tempo de migrar para o Norte, de Tayeb Salih; traduzido do árabe por Safa Abou-Chahla Jubran. São Paulo: Editora Planeta do Brasil, 2004)

Por Flávio Carvalho

Desde o natal do ano 2007, atualizo e envio 18 propostas para o dia 18 de dezembroDia Internacional do Migrante. Quem sabe não concordas em pelo menos uma das dezoito propostas… Oxalá estejas de acordo, sim, com todas elas!

1. No dia 18 de dezembro, terça-feira, Dia Internacional do Migrante, sinta-se mais brasileiro do que nunca. É crescente entre nós, brasileiros migrantes, a sensação de que nos sentimos hoje mais brasileiros do que quando morávamos no Brasil. Não é nada contraditório sentir-se mais brasileiro exatamente nesse dia.

2.Visite a página web do Portal Consular relativa aos Brasileiros no Mundo. Conheça uma das mais importantes iniciativas mundiais de organização autônoma das comunidades brasileiras no mundo, principalmente nossas associações.

3. Conheça o Documento de Barcelona, fruto do 3º Encontro da Rede de Brasileiras e Brasileiros na Europa (documento reafirmado em Londres, em 2011), e ajude a divulgá-lo. De boa parte do seu conteúdo estão saindo as propostas e reinvindicações que foram transformadas em políticas públicas para os brasileiros no mundo, por parte do Governo do Brasil. Uma realidade que vai sendo construída a cada dia. O queres? Mande-me um e-mail para cbrasilcatalunya@gmail.com

4. Aproveite e visite também a página webhttps://brasileirosnomundo.itamaraty.gov.br/. Conheça e se reconheça nesse canal de interlocução institucional dos Brasileiros no Mundo.

5. Conheça as associações e as mídias comunitárias. Pelas redes sociais ajude a sensibilizar a opinião pública sobre a nossa condição de cidadania enquanto brasileiros vivendo fora do nosso país e querendo participar cada vez mais do processo de democratização do nosso Brasil (uma democracia, em minha opinião, em constante ameaça e agora mais que nunca). Simplesmente, se puder, reenvie este texto e já estará fazendo muito.

6. No primeiro dia útil após o dia 18 deste mês, vá até a página web do seu Consulado e informe-se ao máximo sobre as atualidades do organismo do Governo Brasileiro mais próximo de você. Aliás, você já olhou a data de vencimento do seu passaporte?! Mantenha-o bem cuidado e sempre em vigor.

7. Leia ou comece a ler um livro sobre o tema da migração, ou especialmente da migração brasileira (se não conhece, peça dicas e sugestões). Se não, você também pode começar a escrever a sua própria história. Por exemplo, já leu, do Henfil, “Diário de um cucaracha”, sobre migração de um brasileiro aos Estados Unidos; ou do João Ubaldo Ribeiro, “Um brasileiro em Berlim”? Consulte em www.alivraria.de, um empreendimento brasileiro que disponibiliza produtos também via Internet.

8. Faça o mesmo com algum vídeo ou filme sobre migrações ou migração brasileira (já assistiu o filme sobre o brasileiro Jean Charles, morto na Inglaterra pela polícia que deveria ter lhe protegido?). E, se puder, convide amigos pra assistir com você.

9. Esteja onde estiver, às 18 horas em ponto do dia 18 de dezembro (hora considerada muito significativa por diversas religiões mundiais), seja laico – respeito pela privacidade individual e espiritual de cada um – ou admirador do diálogo inter-religioso, agnóstico ou ateu, crente ou não, isso é o que menos importa: ore, reze, faça uma prece, cante um mantra, um cântico, um ponto, um toque, um hino, um rito xamânico, ou mesmo uma boa música popular! Mentalize e deixe fluir alguma energia positiva, pense firme na felicidade de algum amigo ou amiga, concentre-se na saúde de algum parente, ou se você não acreditar em nenhuma das alternativas anteriores, exerça um minuto de respeito pelos que creem (e os que creem, também pode exercer o dever de respeitar os que não creem). Equilíbrio, Respeito e Confiança na Humanidade! Viva a liberdade de expressão.

10. Como será perto do Natal, doe aquilo que já não mais necessita ou ajude aquele que mais necessita (procure serviços de donativos mais próximos de onde mora). Exercite o que a tradição milenar oriental do Feng Shui (e do Budismo) chama de “exercício de desprendimento”: liberar-se de materialismos e concentrar-se no que é essencial no nosso cotidiano.

11. Se você é um dos que ainda podem, contribua com qualquer campanha de recolhimento de donativos para as mais famílias mais afetadas pela crise econômica. Na página da www.abong.org.br, por exemplo, encontrará muitas informações e formas de ajudar.

12. Elimine definitivamente do seu vocabulário a expressão “ilegal”, quando se referir às pessoas em situação de irregularidade em relação à política migratória de determinado país. Segundo grandes organizações de defesa dos Direitos Humanos em nível internacional, ninguém é ilegal até que se prove o contrário – de acordo com o conceito jusnaturalista de presunção de inocência: ninguém pode ser acusado por antecedência de um crime que não cometeu; e o ônus da prova (o custo e o dever de provar) cabe a quem acusa e não a quem pode estar sendo injustamente acusado. Além disso, no máximo, aquele ser humano comete uma infração administrativa imposta por países que não respeitam o direito humano – universal – de migrar.

13. Envie um e-mail para aquela amiga ou amigo com quem faz tempo que você não se comunica. Nem que seja para lembrar o quanto um abraço amigo é importante, mesmo que de longe. Aliás, de longe pode ser ainda mais importante, tanto para você quanto para a amiga ou o amigo.

14. Faça o mesmo do item anterior com uma velha carta depositada nos correios. Escreva a mão e tenha o prazer de depositar pelo menos um cartão postal (é mais ecológico não gastar papel), pelos correios. Porque nada substitui a velha sensação de receber uma carta amiga (ou mesmo um cartão de natal), em mãos.

15. Associe-se. Procure uma associação mais próxima de você e dos seus interesses e necessidades. Coletivize-se! Será muito importante saber ou lembrar o quanto você não está só. Quer alguma dica? Escreva-me no mesmo gmail anteriormente informado.

16. Se já faz parte de alguma associação, realize, no dia 18 ou na primeira data que for possível, uma reunião, para celebrar este dia dos migrantes do mundo (conforme atribuído pela ONU, o Dia Internacional do Imigrante). Lembre-se que em qualquer lugar do mundo, haverá outras associações de migrantes de outros países que estão na mesma situação que você e estão lutando pelos mesmos direitos que os seus e de seus familiares. Melhor ainda seria não se esquecer da situação dramática das inúmeras famílias de refugiados que podem estar sobrevivendo bem aí do teu lado.

17. Reenvie esta mensagem para a maior quantidade de pessoas que você puder e considerar importante (ocultando os destinatários do e-mail no campo CCO – Com Cópia Oculta, e evitando mensagens indesejadas / spams). Compartilhe nas redes sociais.

18. Não fique aí pensando no que você não tem, no que já teve e lamenta haver perdido, ou no que somente fica a desejar… Aproveite o que tem em mãos ou à sua disposição. No fundo só depende de você. Seja feliz consigo mesmo. Aproveite os horizontes culturais ampliados pelas migrações. Sinta-se privilegiada ou privilegiado. Você merece. Boas festas de final de ano e AQUELE ABRAÇO!

Flávio Carvalho é sociólogo (escrevo em nome próprio, de forma voluntária e neste espaço não pretendo representar nenhuma instituição ou organização).

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