Racha entre independentistas deve levar a novas eleições na Catalunha

Ao apoiar retirada da ata de deputado a Quim Torra (JxCat), Esquerda Republicana expõe divergências com sócios no governo e afunda projeto independentista

O hemiciclo do Parlamento da Catalunha foi o cenário do racha profundo entre os sócios do governo independentista partilhado entre Juntos por Catalunha (JxCat) e Esquerda Republicana (ERC) nesta segunda-feira (27). Os republicanos referendaram a retirada da ata de deputado do presidente da Catalunha, Quim Torra (JxCat) recomendada no final de dezembro pela Junta Eleitoral Central (JEC) e referendada na última sexta-feira (24) pelo Tribunal Supremo da Espanha (TS).

Uma imagem sintetizou hoje o quão profundas se tornaram as diferenças em dois anos entre os partidos que em 2017 estavam unidos na coalizão Juntos pelo Sim (JxSim), que levou a frente o referendo de 1º de outubro e a proclamação da república, embora que frutada pelo governo espanhol.

Instantes após Torra (JxCat) encerrar seu discurso no púlpito apelando ao presidente do Parlamento, Roger Torrente (ERC), que não deixasse as instituições catalãs retrocederam e que impedisse a sua destituição convocando votação no pleno, Torra recebeu um profundo silêncio dos deputados de ERC, entre eles o vice-presidente Pere Aragonés, que não moveu um dedo, apesar de estar sentado ao seu lado. Isso enquanto seus pares de JxCat o aplaudiam.

Aos aplausos dos parlamentares de JxCat se somaram os dos secretários de governo pertencentes à formação política de Torra. Os secretários que integram o governo por parte de ERC também se mantiveram em silêncio e tampouco se levantaram. A fratura exposta na casa leva a crer que em breve deverão ser realizadas novas eleições para o Parlamento da Catalunha, como defendem diversos atores políticos após o ocorrido.

A palavra mais ouvida entre os deputados é que a coalizão foi “rompida” em termos políticos. Torra apenas contou com o suporte dos deputados da CUP, partido independentista anticapitalista que também defendeu a desobediência institucional à ordem da JEC. Isso porque entendem, como a defesa de Torra, que a JEC, um órgão meramente administrativo, não tem poder para destituir um deputado eleito pelo voto popular. Além disso comunga da ideia de que não se pode ceder à pressão do estado espanhol contra Catalunha.

DIVERGÊNCIAS – Desde o início da Legislatura, em janeiro de 2018, as discrepâncias entre JxCat e ERC foram crescendo. Em 30 de janeiro daquele ano, Roger Torrente se negou a colocar em votação o nome de Carles Puigdemont para assumir outra vez a frente do governo catalão, contrariando os sócios de JxCat. Torrente preferiu não topar de frente com a justiça espanhola, que proibiu sessão telemática na qual se pretendia investir Puigdemont.

Naquele momento, Puigdemont, que havia presidido o governo dissolvido pelo Congresso espanhol estava exilado na Bélgica. Contudo, seu partido, JxCat, havia ficado em primeiro no pleito imposto pela Espanha no qual as fileiras independentistas mais uma vez conseguiram maioria no parlamento.

Na sequência, após a investidura de Torra, meses depois, houve divergência da proposta do novo presidente de incluis os prespos catalães entre os secretários de governo. Uma resposta conjunta dos dois partidos tampouco chegou após a sentença do TS, que condenou os presos independentistas (de ERC e JxCat) a penas que somadas chegam a mais de cem anos de prisão, em outubro de 2019. A distância entre os dois partidos aumentou com a recente investidura de Pedro Sánchez (PSOE) como primeiro-ministro espanhol, a troco de uma mesa de negociação pactada por ERC sem a anuência de JxCat.

“Faz tempo que existem dois governos”, resume um dirigente palaciano para explicar a situação, em entrevista sob sigilo ao jornal Nació Digital. Outros consideram que se chegou a um ponto irreversível, que levará a uma precipitação eleitoral que pode chegar antes da inabilitação em última instância de Torra – a decisão do TS da semana passada foi em resposta a uma ação cautelar.

Torra acusou Torrent de ter permito que fosse afastado como deputado, enquanto o presidente do Parlamento insistia que o apoio a Torra não podia comprometer as votações na Câmara. Há uma corrente que sustenta que Torra agiu sem apoio dos presos políticos e exilados, o que parece paradoxal uma vez que foi condenado pela justiça extamente por deixar exposta na fachada da Generalitat uma faixa em apoio a eles.

Há quem defenda que Torra poderá continuar como presidente da Catalunha, mesmo sem a cadeira de deputado. Será possível? Nos próximos dies ou horas se saberá. 

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