Um minuto para meia-noite

Por Cesar Vanucci*

A humanidade está cavando a sua própria sepultura”. (Antonio Guterres, Secretário Geral da ONU)

Glasgow, Escócia, novembro de 2021. Falta um minuto para meia-noite, momento fatídico nas previsões científicas para catástrofes inimagináveis. O alerta da Ciência ecoa em todos os cantos deste Planeta, tão maltratado pela insensatez humana. Todas as avaliações em torno do aquecimento global mostram que as calamidades anunciadas não são tão aterrorizantes quanto a gente consiga imaginar, mas muito mais apavorantes do que a gente jamais conseguiria supor.

O encontro histórico aglutina lideranças políticas, cientistas renomados, representantes qualificados de todos os setores da sociedade engajados no esforço global de fazer deste um mundo melhor para todos.

O tom do evento, com seus debates, depoimentos, relatórios técnicos, compromissos, acordos, foi dado pelo anfitrião, primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson. Ele fez sugestiva comparação dos graves desafios confrontados pela espécie humana na atualidade com as missões fictícias enfrentadas pelo “seu compatriota” James Bond, afirmando, de forma solene, que as tragédias previstas não são fruto de enredo cinematográfico. “A máquina apocalíptica é real” –proclamou.

Estamos a um minuto da meia-noite e precisamos agir mais. Se não fizermos nada hoje, será muito tarde para os nossos filhos fazerem algo no futuro”. “Todas as promessas serão um blábláblá, a ira e impaciência do mundo serão incontestáveis” – completou o dirigente do Reino Unido, referindo-se a declarações da jovem sueca Greta Thunberg. Esta ativista, participando em Glasgow, de manifestações populares, adquiriu, notoriedade mundial com conclamações endereçadas sobretudo às novas gerações, em prol de providências urgentes capazes de redefinirem os rumos dos acontecimentos, no que toca às mudanças climáticas.

O pronunciamento mais esperado pelos convencionais, na sessão de abertura do certame de Glasgow foi o do presidente dos Estados Unidos Joe Biden. Em suas palavras, ele procurou dar um protagonismo inédito aos Estados Unidos. Segundo ele seu país faz questão de mostrar “que não só está de volta à mesa, mas pretende liderar pelo exemplo, o que nem sempre foi o caso”. “A mudança climática está destruindo o mundo”, assinalou o dirigente da Casa Branca, reconhecendo que seu país é o maior emissor de gases poluentes. “Estamos em um ponto de inflexão da História (…). Nenhum de nós pode escapar do pior que ainda está por vir se não conseguirmos fazer frente a este momento”, acrescentou.

Joe Biden deu ciência das estratégias que os EUA pretendem colocar em andamento para zerar seu saldo de emissões. Enfatizou ainda que os “Estados Unidos irão contribuir para que países em desenvolvimento se adaptem e façam frente as mudanças climáticas.” Lembrou ainda tratar-se de demanda antiga que se acentuou durante o distanciamento americano do cenário multilateral no governo Trump.

Alcançou forte repercussão, o desabafo do Secretário Geral da ONU, o português Antônio Guterres, exprimindo, com toda certeza, o sentimento reinante na COP26: “Chega de tratar a natureza como toalete”. A  humanidade está “cavando a própria sepultura”. É hora de dizer chega, pois os últimos seis anos foram os mais quentes já registrados e o “vício por combustíveis fósseis” está empurrando a humanidade para a beira do abismo.  Ele chamou atenção ainda para a circunstância de que “o aumento do nível do mar já dobrou nos últimos 30 anos, que os oceanos estão mais quentes do que nunca e que áreas da Floresta Amazônica já emitem mais carbono do que absorvem.”    Explicou que as propostas dos governos poderão levar o mundo a um aumento “calamitoso” da temperatura para 2,7 °Celsius.

Aí está o implacável diagnóstico. Reclama ação pronta e eficiente. Agora. Já. A inação equivale a uma sentença de morte.

 * O jornalista Cesar Vanucci (cantonius1@yahoo.com.br) é colaborador do Blog Mundo Afora.

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