Refugiados clamam: “Publiquem as fotos mais impactantes”

Refugiados foto Abd Doumany AFP
Menina ferida retratada em hospital sírio. “São as próprias vítimas que nos pedem para que suas fotos mais impactantes sejam divulgadas”, diz diretor da Save the Children, Andrés Conde

O diretor geral da ONG Save the Children na Espanha, Andrés Conde, é taxativo em afirmar que a publicação de fotos impactantes sobre o drama vivido pelas vítimas de conflitos e refugiados, seja nas redes sociais ou na imprensa, é muito importante. “Todo mundo tem que saber o que está acontecendo”, enfatizou, ao dizer que imagens como as das crianças famélicas de Madaya, na Síria, ou como do pequeno Aylan Kurdi, que morreu afogado na costa turca ano passado tentando chegar à Europa, fazem remover consciências.
Para Conde, que fez o apelo em matéria divulgada pelo jornal espanhol La Vanguardia (confira aqui em espanhol) mesmo sendo imagens fortes, não há que ter dúvida na hora de publicá-las. “Tenho ouvido este apelo das próprias vítimas este tipo de pedido”, afirmou o ativista, que recentemente retornou de uma missão em um acampamento de refugiados na fronteira com a Síria.
“As pessoas se acercavam da gente para manifestarem a preocupação porque fazia dias que não viam jornalista na área. Se sentiam esquecidos e são plenamente conscientes de que sem a pressão destas imagens que refletem sua crua realidade, os governantes os ignoram na hora de tomar decisões”, revela o diretor da ONG.

Refugiados Douma
Refugiados temem serem esquecidos

Conde considera que “a pressão que se consegue com uma só dessas imagens não é comparável a nenhuma campanha de conscientização”. “Falamos de milhares de crianças cuja vida está ameaçada pela fome,  medo, violência… Não há montagens, não se ultrapassou nenhuma linha vermelha nem é uma visão distorcida da realidade. A situação é grave”, destacou. Conde lembro que pelo que chama de “fadiga informativa” dos meios de comunicação notícias destes conflitos podem passar facilmente a segundo plano.
Refugiados Madaya Handout - ReutersMADAYA – Conde recorda que o drama vivido pela população da Síria voltou às primeiras páginas com a publicação nas redes sociais das fotos das crianças famélicas de Madaya. Segundo relatos dos representantes da ONU, mobilizados após a propagação das imagens, a situação na localidade sitiada por forças pró-governo Bashar al-Assad é “terrível”, com centenas de pessoas em estado crítico de inanição.
As primeiras evacuações no local tiveram início no último dia 12, com 400 pessoas transferidas para instalações médicas, em grave risco de vida. Na cidade, com 42 mil habitantes, um quilo de arroz chegava a custar 300 dólares. Segundo relatos, muitos se alimentavam de sopas de grama e ervas.
Na operação, um comboio de 44 caminhões levou itens vitais de saúde, nutrição, utensílios, cobertores e materiais para a construção de abrigos. Outro comboio com 21 caminhões conseguiu levar uma ajuda para 20 mil pessoas em Kafraya e Foah, dois municípios sob o cerco de forças da oposição no nordeste da Síria, perto da fronteira com a Turquia.
AYLAN – O diretor de programas internacionais da Save the Children, David del Campo, concorda com Conde e lembra do impacto global que teve a foto de Aylan Kurdi, o menino afogado em setembro na praia de Bodrum, na Turquía. “A imagen abriu de debates sobre o acertado o não de sua publicação. Que para mim mostrou as consequências de um grave conflito. e a o meu ver foi acertado difundi-la”.
Campo frisa que “ao menos outros 120 meninos sírios de idade similar a de Aylan tiveram no ano passado o mesmo final ao naufragar nas embarcações com as quais fugiam de seu país”. A foto reflete, portanto “uma crua realidade majoritária que não se deve esconder”, sentencia.
A Save the Children é uma ONG presente em mais de 120 países que trabalha na defesa e promoção dos direitos da infância no marco da Convenção sobre os Direitos das Crianças das Nações Unidas.

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